1934_22_Cardinal, 1934
Parte Final - A parte final de tudo
e a gente morre todo dia
na cabeça morre, e ver como é morrer
estranho, tem alguém na gaveta
são ossos? são vozes?
são lembranças?
são meus amores ali cara
são tudo
cortou-se a veia e o sangue
fez rio
silêncio que precede a morte
eu era só, sozinho
um amor no ninho
que já não sabia
se ía, ficava em moinho
acaso não sabia que ficaria sempre sozinho?
acaso não sentia que seria isso?
seria um despropósito ser feliz
já somos programados para sermos infelizes
já estamos prontos para perder
quem amamos
quem sonhamos
e sofrer a velha história da saudade
era noite, comeu a sopa com sua mãe
andou por entre as paredes de uma casa
viu seus filhos
sua neta e percebeu o que tinha criado
ele havia criado um mundo
vidas, sonhos, sentiu o amor
sentiu as lágrimas dentro de sí
sentiu tudo e morreu
foi embora
agora jaz ali
em frente a mim, vim pra mais perto
vim, aqui estou
e não me demoro, não!
é preciso partir
foi-se um dia
foram-se todos os dias
sempre vão
o segredo da vida
é que são apenas sensações
transvestidas de momentos
somos momentos constantes
em sonhos dormentes
e fins permanentes
sobrevivendo em lembranças
que já é a razão
do ser
do viver
em si
momento porvindo
momento existir
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